NOTA DA ADUNIR SOBRE A SITUAÇÃO DO CAMPUS DE PORTO VELHO E AS AÇÕES PRIVATISTAS DA REITORIA
A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Rondônia (ADUNIR Seção Sindical do ANDES-SN) vem a público denunciar, mais uma vez, as precárias condições de trabalho e estudo no campus da UNIR em Porto Velho.
A situação chegou a um ponto alarmante. Além da falta de materiais básicos para o desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão, o campus enfrentou, no último mês, a suspensão das aulas entre os dias 24/09 e 02/10/2025, em razão da contaminação da água. Exames laboratoriais identificaram a presença da bactéria Escherichia coli (E. coli), altamente perigosa à saúde, na água consumida por estudantes, docentes e técnicos da universidade. A E. coli pode provocar febre, náusea, vômito, diarreia e, em casos mais graves, complicações fatais. Dias antes da interdição, foi encontrado um gato morto dentro da caixa d’água do campus, fato amplamente denunciado pela comunidade acadêmica.
Após o episódio, diante das críticas e mobilizações legítimas que exigiam providências imediatas, a gestão enviou um e-mail à comunidade com o seguinte teor: Chega de teoria da conspiração. É hora de canalizar as energias e a sede de soluções participando da Maratona UNIR Socioempreendedora.
O conteúdo dessa mensagem revela o caráter autoritário e reacionário da atual gestão, que minimiza a gravidade da situação sanitária e tenta converter a crise institucional em um suposto “desafio empreendedor”. Essa visão mercantilizadora de universidade, baseada em alianças com o setor privado, vai de encontro aos princípios da universidade pública, gratuita e socialmente referenciada.
A reitoria tem insistido em submeter a extensão universitária à lógica empresarial, contrariando seu verdadeiro sentido: servir ao povo, democratizar o conhecimento científico e contribuir para a transformação social e a melhoria das condições de vida da população. Transformar negligência e descaso em oportunidade de “empreendedorismo individual” é um absurdo inaceitável e demonstra profunda desconexão com o caráter público da universidade.
No dia 22 de outubro de 2025, a comunidade universitária foi surpreendida com o fechamento temporário do Restaurante Universitário (RU) do campus de Porto Velho. Conforme a PROCEA, a empresa responsável pelo serviço, Pupo Cozinha Industrial Ltda, simplesmente abandonou o contrato e deixou de responder aos contatos da UNIR.
Dois dias depois, em 24 de outubro, uma nova empresa MR Comércio e Serviço Ltda assumiu o RU, reduzindo o valor do almoço em míseros 35 centavos. Ainda assim, o preço continua entre os mais altos do país. O que está por trás dessa “troca de empresas” vai muito além do prato de comida: é o avanço da lógica privatista e da terceirização dentro das universidades públicas.
O verdadeiro problema do Restaurante Universitário, e de tantos outros setores da vida universitária, é o mesmo que vem corroendo o serviço público no Brasil: a terceirização generalizada. O que antes era garantido por servidores públicos cozinheiros(as), nutricionistas, zeladores(as), técnicos(as) e outros profissionais concursados , hoje é entregue a empresas que visam o lucro, e não o interesse público.
Na UNIR, a história não é diferente. Alguns anos atrás, a UNIR oferecia serviços próprios e essenciais: ambulatórios de saúde com médicos, dentistas e enfermeiros, que atendiam estudantes e servidores; equipes de vigilância, limpeza, transporte e manutenção, formadas por trabalhadores da própria universidade. Tudo isso foi sucateado e destruído em nome de uma suposta “modernização”, que na prática significa privatizar o que é público.
Desde os anos 2000, a terceirização se espalhou pela UNIR, começou com limpeza e segurança, e hoje atinge todos os serviços básicos, inclusive os intérpretes de Libras. A atual reitoria foi eleita defendendo a terceirização de técnicos administrativos, e a reforma administrativa em curso abre caminho para algo ainda mais grave: a terceirização do trabalho docente.
Chamemos as coisas pelo nome certo: isso é privatização! E como toda privatização, ela vem precedida de sucateamento, precarização e abandono. É o mesmo roteiro de sempre primeiro, se destrói a estrutura pública, depois se diz que “é ineficiente” e, por fim, se entrega ao setor privado.
Enquanto amargamos as péssimas condições de funcionamento do campus, a Reitoria da UNIR gasta valores exorbitantes em passagens e diárias, financiando viagens e comitivas para eventos ligados ao agronegócio e agendas politiqueiras, no contexto da chamada “reitoria itinerante”, uma prática que tem servido mais a interesses pessoais e eleitoreiros do que ao fortalecimento da universidade pública. Nos últimos dois anos, mais de oito milhões de reais foram gastos em totens de segurança que não cumprem qualquer função efetiva. A ineficiência é tamanha que os equipamentos “inteligentes” não foram capazes sequer de registrar o roubo de dezenas de aparelhos de ar-condicionado que estavam armazenados no teatro, retirados de uma só vez sem qualquer vigilância. Recursos públicos vultosos, oriundos de emendas parlamentares de políticos alinhados ao setor privado de segurança, foram desperdiçados em um projeto de fachada, sem transparência e sem retorno algum à comunidade acadêmica. Tal situação evidencia o desvio de prioridades dessa gestão, que investe em aparatos de marketing e visibilidade institucional enquanto negligencia as condições básicas de ensino, pesquisa, extensão e permanência estudantil.
A ADUNIR denuncia o abandono e o sucateamento deliberado do campus de Porto Velho, bem como a adoção de uma política privatista que submete a universidade aos interesses do capital e à lógica de mercado.
Reiteramos nossas exigências imediatas:
Defender RU público, defender os serviços públicos e defender os trabalhadores e estudantes da UNIR é defender a própria universidade pública, gratuita e de qualidade. Não aceitaremos que a educação se torne mercadoria, nem que nossas condições de vida e estudo sejam entregues à lógica do lucro.
A ADUNIR reafirma seu compromisso com a defesa intransigente da universidade pública, gratuita, laica e socialmente comprometida, e conclama toda a comunidade acadêmica a seguir mobilizada contra o desmonte e a privatização da UNIR.
Em defesa da universidade pública e dos direitos de quem a constrói todos os dias!
Viva o dia dos servidores públicos!
Abaixo a Reforma Administrativa!
Porto Velho, 22 de outubro de 2025
ADUNIR Associação dos Docentes da Universidade Federal de Rondônia
Seção Sindical do ANDES-SN
